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domingo, 7 de agosto de 2011

Advogado brilhante

Um homem estava sendo julgado por um assassinato, havia cometido um crime cruel. Matou um homem por um motivo torpe: durante uma discussão, a vítima havia jogado um copo d’água em sua cara, sentindo-se humilhado e ferido moralmente ele o assassinou.

Era certeza de sua condenação, pegaria pena máxima, pois existiam provas cabais e irrefutáveis. O promotor fazia seu show no tribunal, com bastante eloquência e convicção da pena a ser deferida. Lógico, alguém com tal grau de violência só poderia estar atrás das grades, não existe motivo capaz de explicar uma matança, muito menos por ser agredido por um simples copo d’água.

De repente, não mais que de repente o advogado de defesa teve uma idéia brilhante. Resolveu reproduzir a cena do crime. Começou a criar um clima de atrito com os membros do júri, o mesmo clima ocorrido entre assassino e vítima.

Subitamente pegou um copo com água e, no calor da discussão, sem titubear atirou a água no rosto dos jurados. Que impertinência, que desacato, o juiz logo interpretou assim, repudiando a atitude do advogado. As pessoas que assistiam à audiência ficaram estarrecidos.

Os membros do júri ficaram profundamente irritados e insultados por sua insolência. Então, imediatamente o advogado de defesa pediu desculpas explicando o motivo de sua atitude. Dizendo que fez isso para que os jurados se colocassem no lugar do réu, para sentirem o que ele sentiu no momento que prontamente assassinou a vítima.

O advogado encerrou dizendo: “Se vocês, nobres jurados ficaram irritados quando lhes atirei água, entenderão o que aconteceu com o meu cliente. Infelizmente, todos nós cometemos atos impensados quando estamos tensos, o réu não é perigoso, jamais planejou tal assassinato, não é frio, não é calculista e arrependeu-se da sua atitude impensada, logo não pode ser tratado como um bandido. Julguem o meu cliente baseados nas suas próprias emoções e consciências.”

Fim do julgamento o réu foi absolvido. O advogado de defesa conseguira levar os jurados a compreenderem o fenômeno do gatilho da memória*. É mais fácil desculparmos a violência dos outros quando nos damos conta da nossa própria violência.

Quanto mais os estímulos estressantes se apresentam através da competição predatória, do individualismo, da crise do diálogo, da velocidade das transformações sociais, mais reagimos sem pensar. Mais voltamos ao tempo das cavernas. Assim, pouco a pouco nos psicoadaptamos a agressividade. Aceitamos a violência como normal, como parte inerente da rotina social.

*GATILHO DA MEMÓRIA: Fenômeno que faz com que cada estímulo visual, sonoro ou psíquico seja interpretado imediatamente, em milésimos de segundos. Temos milhões de imagens na memória, mas quando vemos a imagem externa de uma flor, o Gatilho é acionado. Se isto não ocorresse, o eu ficaria confuso. O Gatilho nos prejudica quando vemos alguém que nos feriu ou rejeitou e o Gatilho é imediatamente detonado e abrem arquivos que contêm as ações desta pessoa (janelas killers), gerando ansiedade e raiva. Se o eu não toma a liderança, voltamos para a platéia de nossas vidas e não seremos atores principais.